Sugestão de leitura: Nilton Bonder

Nilton Bonder

Tirando os sapatos: O caminho de Abraão, um caminho para o outro – Editora Rocco

Este livro é uma narração da viagem que o Rabino Nilton Bonder foi convidado a participar, em 2006, ao lado de 23 representantes de diferentes países e religiões, para uma peregrinação pelo Caminho de Abraão, um projeto do Departamento de Mediação de Conflitos da Universidade de Harvard. O Rabino escreve sobre suas experiências durante a caminhada.

Compartilho com você minhas perspectivas sobre este livro, destacando 5 pontos:

  1. O caminho e peregrinação: na apresentação, Bonder reflete sobre quem caminha numa peregrinação é quem ouve o chamado. A peregrinação começa no local da cidade onde Abraão ouve o chamado. Por isso, o caminho se tratar de uma peregrinação. “Não há endereço, só chamado. Abraão é um peregrino. Há um caminho, mas ele não é um meio para chegar a uma terra prometida. Ele é o fim. Não se trata de uma trajetória para um lugar, mas sim de um caminho para si.

  2. O peregrino e o anfitrião: nenhum viajante pode sobreviver sem hospitalidade. O peregrino chega com a perspectiva, com a experiência do que viveu no seu caminho, oferece sua prosperidade interna. O anfitrião o recebe e o acolhe oferecendo seu espaço, sua prosperidade externa, com o alimento e a coberta. O importante é perceber a qualidade da troca com o outro e a hospitalidade ser verdadeira. Cada um é parte da humanidade de uma mesma família. O caminho é a confiança nas pessoas.

  3. A identidade: tem um início simbólico na figura de Abraão. Ele é o início da identidade pois ele dará início a uma família, a um clã e terá uma descendência numerosa. O projeto de Harvard dá um sentido para este aspecto do núcleo da identidade de Abraão, patriarca das três religiões monoteístas – cristianismo, judaísmo e islamismo. Cabe aqui uma reflexão sobre uma proposta espiritual sobre a figura de Abraão: como ouvimos o outro? Essa escuta é mais do ouvir com tolerância (no sentido de apenas não se irritar com o outro) e sim, “tirar os sapatos“ e permitir que essa escuta seja legitima, mesmo sendo divergente do que você pensa ou crê.

  4. A bagagem e o consumo: a bagagem é o patrimônio mínimo que carregamos conosco. Decidir o que levar na bagagem de uma viagem? Qual roupa é adequada? Qual elemento é essencial para estar com você na viagem? O que é realmente consumido numa viagem? Estas reflexões apontaram-me aspectos do que “carrego” tanto no meu dia-a-dia quanto o que seleciono para uma bagagem de viagem.

  5. A caminhada e o sedentarismo: desenvolvemos uma relação com o sedentarismo, na qual queremos consumir as coisas e usufruí-las no sentido de acumular, ter uma segurança e a vida perde o sentido do fluxo do movimento. Quando estamos na caminhada, estamos na busca e percebemos que a vida é um fluxo. O peregrino usufrui do lugar e deixa pronto para o outro peregrino que chegará. Assim como preparamos a casa para os próximos descendentes.

Aproveite, tire os sapatos, caminhe com os pés no chão.
Mais importante que o destino da viagem é a experiência da caminhada.

Boas festas!
Um grande abraço,

 

Dra. Patricia Ferreira Guedes